Monday, October 09, 2006

As palavras perdidas

Só tinha as palavras para te alcançar. Nada mais...Meras palavras. Singelas, simples, ingénuas, mas sentidas e honestas.

Com a cor dessas palavras, tentei pintar o teu mundo como se uma obra de arte se tratasse, tentei embelezá-lo para que só nele visses as cores mais irradiantes. Com a melodia dessas palavras, tentei compor para ti a sinfonia que melhor ilustrasse um Amor que só tu e eu ouviríamos, que estava reservado apenas para nós dois. Com o sabor dessas palavras, tentei cozinhar um sonho, intenso, saboroso, que pudéssemos degustar sempre que tivéssemos vontade. Como se um sonho pudesse ser cozinhado, como se uma sinfonia fosse composta por meras palavras, como se um mundo vivesse apenas de cores irradiantes.

Mas eu, embevecido pela magia que decidiste invocar, pelo vôo rasante que fizeste sobre mim, pela forma sonhadora como me fizeste acreditar no sonho, julguei que essas palavras bastariam, que elas seriam suficientes para derrubar a realidade, que elas seriam suficientes para nos fazer felizes.

Hoje sei que errei. Sei que a realidade não se compadece de sonhos, de pinturas mágicas, de sinfonias, nem sequer de palavras. A realidade, por alguma razão que eu ainda não descobri, obriga-nos a viver antes de sentir, a ver antes de sonhar, a andar ao invés de voar. Porque todos sabemos que não voamos. E, no entanto, ainda me lembro de nos ver a voar...

Aos poucos tudo se desmoronou. Deixei de ouvir e inventar melodias, desisti de pintar e vislumbrar outras cores, e perdi o apetite por novos sabores. E as palavras? Essas foram levadas pelo vento, andaram à deriva, perdidas sem eu sequer imaginar que as haveria de voltar a encontrar. Até que regressaram. Para que eu possa voltar a sonhar...

1 comment:

Anonymous said...

Se não voássemos, mesmo que apenas em sonhos, morreríamos...tal como a gaivota que aprendeu a voar só para sobreviver... mas que logo se arrependeu de todo o tempo que perdeu antes de voar...