Thursday, September 01, 2016

Uma carta meio alucinada

Minha Querida,

Acho que por vezes te escrevo apenas para ficar a sós com as minhas palavras. Como se a elas me confessasse. Como se através delas me penitenciasse. Como se por causa delas alcançasse a paz que procuro. Mas, como escrevo para ti, as palavras são tuas. Ou nossas, quando muito. Nunca são as minhas palavras…

Mas, de tempos em tempos, tenho de as forçar a sair, num exercício profilático para evitar (ainda maiores) complicações de Alma. Não sei se os resultados alcançados me permitem suspirar de alívio. De qualquer maneira, na maior parte dos casos, sinto-me mais feliz. Mesmo que fique triste.

O Amor é uma coisa tão complicada e, todavia, tão simples. O Amor é uma prisão e, no entanto, tão libertador. O Amor é uma fonte de tristezas e, apesar disso, uma nascente de alegrias. Tu sabes como eu gosto de dissertar e de falar sobre o Amor…

Dói-me imenso ver os teus olhos tristes. Saber que sou eu o causador dessa tristeza ainda mais. É uma dor tão grande…Se eu ta soubesse explicar…Queria ser capaz de te fazer feliz a cada segundo que respiras. Afastar os teus medos com as minhas próprias mãos, que te acariciam. Afugentar os teus fantasmas com a força dos meus sonhos, que te encantam. Apagar as tuas tristezas com a paz do meu sorriso, que a ti devo. Acabo quase sempre por constatar que, não obstante a minha vontade, o efeito é o inverso. São as minhas mãos que te trazem o medo, os meus sonhos os teus fantasmas e o meu sorriso a tua tristeza. E isso dói-me. Tanto como se eu soubesse que tudo aquilo que construo fosse a razão da sua própria destruição. Tiraria todo e qualquer sentido à minha vontade de construir.

São tantas e tantas as vezes em que fico sem saber como agir, o que fazer. Porque o que mais me preocupa é o teu sorriso, a tua Alma, a tua paz, a tua felicidade. E por vezes sinto que nada te trago de bom. A não ser sonhos, que se desvanecem quando chega a noite e o sol se põe.

Mas é tão bom sonhar contigo…Partilhar contigo os meus e os teus sonhos. Construirmos juntos os sonhos que são dos dois. Entretermo-nos com mundos que tão bem conhecemos e onde nos sabemos comportar e onde não nos olham com ar desconfiado, como se estranhassem que um menino indiano de cuecas e cabelo despenteado passeasse de mão dada com uma menina inglesa, loirinha, de vestidinho azul e branco. Como se houvesse algo de estranho nessa imagem…

Quando olhamos um para o outro, quando conversamos um com o outro, quando nos entregamos um ao outro, sabemos que tudo está certo, que tudo encaixa, que tudo faz sentido. Como nos nossos melhores sonhos. A vida é que nem sempre faz sentido. O mundo é que nem sempre faz sentido. Os outros é que nem sempre fazem sentido. Mas então…para que raio lhes havemos de ligar?

De vez em quando gosto de ficar quieto, sossegado, talvez até de olhos fechados. A contemplar o silêncio. E a sonhar. Às vezes com nada, mas a sonhar. Viajando para outro mundo, para outro espaço, para outro lugar, para outra vida. Muitas vezes te encontro nessa viagem. Muitas vezes faço ao teu lado essa viagem. Muitas vezes levo-te comigo nessa viagem. Qual é o mundo certo? Haverá algum errado? Em qual deles sou feliz? Nesses momentos em nada penso. Limito-me a sentir a paz que me rodeia, a luz que me acende por dentro. E sorrio. Estou certo que sorrio. Mesmo que não o consigas ver. Porque eu estarei de olhos fechados

Uma das poucas coisas que sei, das quais tenho a certeza, é que me ajudas a encontrar esses momentos de paz e tranquilidade onde eu posso dizer: sou feliz. Por isso, dê lá por onde der, aconteça o que acontecer, serão esses sonhos que eu levarei comigo onde quer que eu vá. Por isso tenho tanta a certeza que amanhã te direi, com o mesmo coração com que to digo hoje, Amo-te. Muito, muito, muito