Monday, April 26, 2010

A distância...

A distância faz ao amor aquilo que o vento faz ao fogo: apaga o pequeno, inflama o grande - Roger de Bussy-Rabutin [1618-1693]


Amor…


Acho que nunca estivemos tão afastados, tão separados, tão distantes. E, infelizmente, não se trata de uma distância física ou geográfica. Pelo contrário, o que nos separa neste momento são as dores, as desilusões, as mágoas e o silêncio. O silêncio…Esse torturante silêncio que destrói sonhos, desfaz ilusões, aniquila toda e qualquer esperança de felicidade. Mesmo para mim, que nunca acreditei na felicidade…


Não te sei dizer como me sinto…Sinto tantas coisas em simultâneo e, ao mesmo tempo, uma estranha sensação de vazio. Faltas-me. Isso sei, isso sinto, isso vivo. A minha vida e o meu dia a dia não são os mesmos sem ti. O teu sorriso alegrava-me, os teus olhos faziam-me sonhar, os teus abraços e o teu carinho reconfortavam-me. E os teus sonhos, fossem eles utopias ou pesadelos, levavam-me para longe. Levavam-me para outros mundos. Levavam-me da realidade onde eu nunca me encaixei, onde eu não sei se algum dia encaixarei.


Sem ti, sem te ter por perto, tudo se torna insípido e sensaborão. Já sei que, se agora me lesses, terias provavelmente um acesso de fúria e vociferarias contra esta minha estúpida veia romântica e nostálgica de me entregar às palavras. Mas sabes uma coisa? Até dos teus acessos de fúria tenho saudades, das tuas mudanças de humor, das súbitas – e quase sempre inexplicadas – alterações de expressão.


Só não tenho saudades de uma coisa. De te ver sofrer. De sentir que era eu a razão desse sofrimento. De te fazer chorar. De te fazer perder o chão e o equilíbrio. Talvez – como eu - sofras neste momento. Talvez esta minha atitude seja mais um gesto de cobardia por preferir sofrer sozinho, por optar por não assistir ao teu sofrimento, por enfiar a cabeça debaixo da areia à espera que as tempestades passem. Bem sei que, com as tempestades, segue também a minha vida. E também sei que essa vida não volta atrás. Nada volta atrás…


É tudo tão estranho e complicado. Eu sou tão estranho e complicado. Por mais voltas e voltas que dê, nunca me consigo entender, nunca consigo seguir determinado por este ou por aquele caminho. Como se estivesse preso, de mãos e pés atados, e me deixasse levar. Sem opção, sem escolha, sem vontade.


E, no entanto, Amo-te. Seria tudo tão mais fácil se eu não te Amasse, se eu fosse capaz de virar a página, se eu fosse capaz de te colocar numa prateleirinha qualquer como um bibelot de recordação de uma viagem passada. Mas nada se passa assim. Onde me faltas, onde sinto a tua ausência, onde moram as saudades, é no meu dia a dia, nos almoços onde não estás, nos caminhos onde não te encontro, no leito onde não dormes, nos meus braços onde não te aninhas. Bem sei que te tenho sempre comigo: no meu coração, nas minhas recordações, nas minhas palavras e nos meus sonhos. Bem sei que aí tens uma morada segura e que aí ninguém te tocará, que ninguém te apagará ou suplantará. Sei que no meu coração terei sempre oportunidade de te mostrar o quanto te Amo, o quanto significas para mim, o valor do carinho que te devoto. Mas chegará isso para me fazer feliz? Chegará isso para saciar a fome que tenho de ti? Chegará isso para que eu consiga ver a luz do Sol? Por mais que eu persista em rejeitar o conceito de felicidade, sei bem que a resposta a todas essas perguntas será um rotundo não. A tua ausência, a nossa separação, o silêncio, todos juntos, deixam-me entregue à minha rotineira tristeza, ao meu habitual desalento, à minha natural depressão. Porque, muito para além das nossas meras vontades, és tu a magia, a fantasia, o sonho e o encanto desta minha existência infeliz…

Sem ti...não gosto do Mar...

Homem livre, tu sempre gostarás do mar
Charles Baudelaire (1821-1867)


Querida,


Decerto te lembrarás de me ouvir a falar do Mar. Quando eu para ele olhava, com um ar sonhador, e te dizia: “sabes…eu gosto muito do Mar”... Devo te ter mentido, já que o mesmo Mar que outrora me encantava, é o Mar que hoje me atormenta. O Mar, onde eu repousava os meus olhos e os meus sonhos, é o Mar onde eu agora deposito as lágrimas que nunca choro.

Aquele Mar, onde eu só via beleza, o Mar que me levava pela linha do horizonte para novos mundos, o Mar que me parecia sempre um ponto de partida para uma qualquer nova descoberta, o Mar que era um bálsamo para as minhas dores, feridas e cansaços, esse Mar, esse de que tantas vezes te falei, secou, desapareceu, evaporou-se. Agora, quando avisto aquela imensidão de água, peço ao coração para deixar de bater, à minha Alma para deixar de sentir e aos meus olhos para cegarem momentaneamente. Porque de nada me vale este Mar. Porque não apaga nem diminui as minhas desilusões. Porque, como sempre, leva-me até ti, mas, neste momento, tu…já não estás lá…

Sou como a Mãe que viu o filho ser engolido pelo Mar e que, por causa disso, no Mar abandonou também a sua vida, as suas esperanças, os seus sonhos e os seus sorrisos. Como se a vida, a partir daquele momento, se limitasse a um exercício quotidiano de respirar e bater do coração. Não estou muito diferente…Respiro, de facto, e o meu coração lá vai batendo (julgo eu…). Mas, cá dentro, nas profundezas da minha Alma, nos cantos recônditos do meu Ser, encontro-me na total escuridão. Sem vida, sem luz, sem Alma, sem nada.

Por isso, de que me adianta se o Mar está límpido e azul ou esverdeado? De que me interessa se o Sol brilha com uma luz forte e emana um calor reconfortante? Para que é que eu quero a voz chilreante dos pássaros e o florir da Primavera? Diz-me…de que me serve a Lua Cheia grande e amarela a olhar para mim? Tu és a luz que acende a minha Alma. És a chama que me dá o verdadeiro calor. És a fonte de todos os meus sonhos. És o destino aventureiro onde me sinto seguro. És o caminho sinuoso para a felicidade que eu teimo em não querer encontrar.

Sem ti, estou cativo das recordações onde te carrego. Sem ti, estou preso do Amor que não te entrego. Sem ti, estou acorrentado às palavras que me consomem. Sem ti, estou subjugado às dores da tua ausência. Sem ti, não sou um homem livre. Sem ti…não gosto do Mar…