Minha Querida,
Por esta ou por
aquela razão, as mensagens que trocámos ultimamente não foram das mais
positivas. Principalmente se as compararmos com as do passado. Que tu
esqueceste, mas eu não…Queixas, silêncios, ausências, indiferenças (o que mais
me dói…).
Só que hoje, ao ver-te de chapéu
de palha, deitada sobre o Mar, sorriso enigmático e olhar fixo num horizonte
que eu não tenho a sorte de partilhar contigo, mandei o orgulho às ortigas e,
levado pela inspiração que poucas pessoas me trazem, decidi escrever-te umas
linhas. Tentarei não me alongar, nem deixar que o meu coração – esse tolo – se
deixe levar por esse teu encanto. Não vá o palerma pegar num bote qualquer que
encontre por aí e saia à tua procura nesse Mar onde já não tenho lugar.
Mas a verdade…é que estás linda
nessa fotografia. E não consegui deixar de to dizer. Posso ser parvo (sinto-me
assim…), ingénuo ou inocente por te dizer as coisas deste modo, mas,
sinceramente, acho que já não sei – nem quero – ser de outra forma. Tenho o
coração ao pé da boca e, nas vezes em que não o amordaço – digo realmente o que
sinto. Principalmente quando algo explode cá dentro, dando início a um processo
de combustão emocional.
Estás longe de ser perfeita e
continuas mal-amanhada. Mas esse sorriso…Esse ar de quem sabe o que quer, o que
procura, onde quer chegar. Essa mistura de menina e mulher. Esse ar enigmático.
Essa paz…Tudo isso me transporta para outros mundos, mundos que conheci, mundos
onde vivi, mundos onde sonhei viver…Ao olhar para a tua fotografia…sinto-me em
casa. Não na casa onde vivo, mas na casa que construí para mim (para nós?), na
casa que idealizei e sonhei, na casa onde seria feliz (se existisse felicidade
para mim…).
O chapéu, a almofada, o mastro,
as velas recolhidas, os cabos, a pulseira verde, a cor da tua pele, as covinhas
que fazes quando sorris, o bikini que pede que o desatem. Parece uma encenação
perfeita. Como se não pudesse ser verdade. Como se, mais uma vez, fosse tudo
fruto da minha imaginação e dos meus sonhos. Será tudo fruto da minha
imaginação e dos meus sonhos???
Por vezes vou acompanhando a tua
vida através do Facebook. Como se, dessa forma, pudesse de alguma forma fazer
parte da tua vida. Às vezes encolho os ombros, refilo comigo mesmo, praguejo,
chego até a insultar-te. Baixinho, não se dê o caso de me ouvires e ficares
triste comigo. Fujo a sete pés da tua ausência, da tua indiferença. Como se não
quisesse ver o que está estampado no teu rosto: que vives bem sem mim, que sou
apenas um personagem de um passado tão longínquo que não passo de uma mera
miragem. E, por vezes – muito raramente – deixo-me sonhar e, aí, embalo-me
nesses teus olhos e na tua boca. Depressa acordo para uma realidade que, sem
ti, fica mais cinzenta e vazia.
Ah, como são curiosas as emoções…Tenho tantas saudades das
nossas intermináveis conversas, faltam-me os sonhos que construímos juntos,
custa-me horrores sentir que não significo nada para ti. E, ao mesmo tempo
disso tudo, fico feliz por ti. Porque os teus sorrisos transpiram felicidade,
porque as tuas fotos replicam os sonhos por ti sonhados, porque continuas linda
e, aparentemente, feliz contigo própria e com os caminhos que vais escolhendo.
E, talvez inebriado por esses sorrisos e por esses sonhos, acabo por te perdoar,
enternecido, o facto de me teres esquecido.