Monday, May 29, 2006

Sonhos de uma vida

Sempre fui muito dado a sonhos. Sempre sonhei, a dormir e acordado. Sempre me deixei levar por esses sonhos por caminhos que desconhecia, por aventuras que eu tanto desejei. Os sonhos sempre foram para mim a vida que a crua realidade nunca me quis dar ou mostrar.

Por isso, por muitas vezes confundi a minha vida com os sonhos e os sonhos com a minha própria vida. Para que diabo haveria eu de ficar eu preso à dura realidade quando tinha dentro da minha Alma uma tão forte capacidade de sonhar? E melhor ainda, de recriar dentro de mim mesmo os sonhos que davam brilho à minha existência.

Assim fui vivendo…Ou sonhando…Ou sonhando que vivia…

Tive tantos sonhos na vida…Grande parte deles nem sequer sei se os realizei, se os vivi, se os desejei verdadeiramente, ou se simplesmente sonhei com eles e contentei-me com cada segundo sonhado. Sonhei com isto, sonhei com aquilo. Sonhei que era esta ou aquela personagem. Nada me deteve, nem detém, enquanto sonho. Por isso sonho!

Já a vida…que triste é a minha sina, já a vida me limita, me impede de sonhar, me impede de acreditar que todos os sonhos são possíveis, me impede de voar. Logo a mim, que faço do sonho uma realidade tão mais interessante. Logo eu, que vivo dessa ilusão que reina na minha vida, tenho de ser obrigado a renunciar aos sonhos.

Nesses momentos, em que a realidade me puxa e agarra, me prende e oprime, me sufoca e tira-me o ar, os meus olhos perdem o brilho, a minha voz enrouquece e não mais canta, e a minha Alma…deixa-se cair, pois não lhe é permitido voar.

Em tempos tive um sonho especial. Sonhei com alguém que eu sempre havia sonhado. Sonhei que havia encontrado alguém que só existia nos meus sonhos. Alguém que não poderia ser real, não era real, alguém que era fruto da ilusão e da fantasia, entidades que tantas vezes me haviam mostrado as maravilhas do Mundo, maravilhas que só existiam nesse Mundo, meu e delas.

E, no entanto, lá estava ela. De carne e osso, viva ali à minha frente. Falava, escutava, escrevia e lia, sentia e, sobretudo…Amava. Como num sonho…Como em tantos sonhos que eu havia inventado. Mas desta vez o sonho havia se convertido em realidade. E Eu, que sempre me havia deixado levar pelo sonho, que o vivia sem saber, ou sem querer saber, que se tratava de um sonho, que renegava de livre e espontânea vontade à realidade, eu fiquei por breves instantes sem saber como lidar, sem saber como agir. Como teria sido fácil em sonhos, mas na realidade tudo parecia difícil.

Mas ela, tão sonhadora quanto eu, pegou-me na mão e tranquilamente me levitou para junto dela. E voámos juntos. Não sei para onde nem por quanto tempo. Sei que tudo fazia sentido. Ela deu razão aos sonhos que tantas vezes havia sonhado, ou queria ter sonhado. Ou, se calhar, trouxe sonhos à razão que fugia de mim.

Os meus olhos reconheciam-se nos seus, as minhas palavras completavam-se com as suas. Os nossos corpos entrelaçavam-se à distância no Amor mais profundo e, no entanto, mais inocente e genuíno que algum dia havia experimentado. A distância entre nós era superiormente ultrapassada por tudo quanto nos unia. Tornámo-nos um só. Chegámos a esse ponto?

Durante algum tempo o sonho e a realidade foram um só. A minha vida pela primeira vez parecia completa porque havia encontrado nela a razão e o Amor que se fundiam. Tudo fazia sentido numa inconsciência perfeita demais para ser inconsciente. Até os nossos corações batiam em compassos uniformes ou com o outro. Nada poderia quebrar esta harmonia. Nada poderia parar esta força. Acreditava eu naquela altura…

Até que um dia, nem eu mesmo posso precisar a data, nos bateu à porta a realidade. Aquela que ambos julgávamos ter sempre estado presente neste momento amoroso. Aquela que ambos sentíamos, trazia a razão que era necessária à sobrevivência de um Amor assim. Mas afinal ela havia estado ausente durante todo aquele tempo. Nada a realidade havia presenciado.

A sua chegada trouxe consigo a dureza e a crueldade de um acordar do sonho mais bonito que me havia sido permitido sonhar. Toda essa dor que senti foi incomparavelmente maior porque, tendo acreditado que aquele sonho era real, deixei-me perder entre esses dois Mundos. Em sonhos nunca me teria ferido daquela maneira, mas a realidade não se compadece de ilusões. Quando eu finalmente acreditava que me seria permitido viver realmente um sonho, tudo se desmoronou. E o sonho, que nunca havia deixado de o ser, desvaneceu-se…

Ainda tentei reencontrar aquela mulher. Aquela que me completava ainda que em sonhos. Aquela que mais me compreendia e que eu entendia como se de mim próprio se tratasse. Aquela que eu Amei e com quem eu vivi um sonho. Procurei-a entre esses dois Mundos: a realidade e o sonho. Prometi em silêncio que lhe daria ambos os Mundos, ou um ou outro, como ela decidisse. Entreguei-me nas mãos de alguém que nunca havia existido senão dentro do meu coração. Mas já nada havia a fazer…Não mais a reencontrei…

Com o coração dilacerado, com raiva ao sonho e desprezo à realidade, com a Alma desesperançada, segui o meu caminho. Sem saber o rumo a seguir, sabendo que não haveria rumo algum depois dela que me fizesse feliz, sem querer ter outro rumo na vida. Mas segui…

O tempo foi passando. E o tempo cura as feridas da Alma como ninguém. A dor que me resta é a mais forte recordação que comigo carregarei até ao final dos meus dias. Mas deixei que essa dor desse também lugar à saudade. À memória daquele sonho que não me foi permitido viver. À lembrança de todo o Amor que ainda pulsa dentro da minha Alma.

Hoje, deixo que a realidade comande a minha vida. E sigo, ordenado e alinhado, como qualquer prisioneiro que espera ser libertado por bom comportamento. Não me deixarei mais ser iludido por sonhos que pareçam reais. Se é este o Mundo a que fui condenado, aqui cumprirei a minha pena. Só que à noite, enquanto espero que o sono me adormeça, enquanto aguardo os sonhos que já não o são, rezo baixinho. Por ela. Para que algures onde ela viva, ou sonhe, encontre na realidade ou no sonho, toda a felicidade, alegria e Amor que eu quis e nunca lhe pude dar. E, com uma lágrima a correr-me pelo rosto, digo-lhe baixinho:
”Vai tua vida pássaro contente. Vai tua vida que eu estarei contigo”

Monday, May 08, 2006

Contigo e sem ti...

Meu Amor,

Tinha-me prometido que não mais te voltava a escrever. Mas hoje não fui capaz de manter a promessa. Hoje, algo me fez pegar nas palavras para te dizer algo. Ou para libertar algo de dentro de mim, já que o teu afastamento impede que ouças o que eu gostaria de te dizer.

Há muito que não estás na minha vida. Nem perto nem distante, nem íntima nem afastada, nem atenta ou distraída. Simplesmente não estás. Não existes. Não respondes aos meus apelos, às minhas queixas, aos meus desabafos. Evaporaste-te por completo. Quando eu me havia habituado à tua presença.

Doeu...Acho que nunca saberás como me doeu. Como me custou olhar à volta, procurar-te e nada mais encontrar a não ser o silêncio e vazio que deixaste no teu lugar. Depois da angústia e da dor, seguiram-se a revolta e o desespero, até chegar à resignação e à aceitação. Em todos esses momentos eu tinha esperanças, que mais não eram do que sonhos. Sonhos que eu sonhava no meu íntimo, quando estava só, quando talvez ainda te procurasse. Sonhos que nunca foram mais do que isso – porventura como o Amor que vivemos – e que a realidade se encarregava de desmentir. Diaria e constantemente.

De tanto me convencer que nada te tiraria dos sonhos, fui desistindo de sonhar. Ou então passei a sonhar com situações mais inócuas, mais vazias, mais inofensivas. E então, até nos meus sonhos começaste a desaparecer. Não por minha vontade, mas porque até os sonhos se cansam de sonhar em vão.

Se por um lado o teu desaparecimento ia-se tornando uma fonte de tranquilidade que eu necessitava para viver a vida, nada nem ninguém supria o vazio que ainda tinha (e tenho). E então o meu coração, sedento de Amor, sedento de Amar, sedento de vida, abriu-se ao Mundo, na esperança que o Mundo lhe desse uma solução.

Foi então que alguém surgiu. Alguém que brilhou como tu brilhaste, alguém que me encantou como tu encantaste. E pensei que nada mais te traria de volta...

Foi nesse exacto momento que constatei que nunca havias desaparecido, que deixaste alojado no meu coração um veneno mortal. Que me impede de viver, que me impede de Amar.
Não sei até onde irá a tua perfídia. Sei que é difícil viver contigo...sem ti...