Deixei cair uma caneta ao
chão. Deslizou entre os meus dedos de forma súbita e inesperada. Como se algo
ou alguém a tivesse empurrado, inadvertidamente, e sem que eu a pudesse
segurar. Escrevia-te, sei que te escrevia…
Às vezes parece que as
palavras que tenho para te entregar são supérfluas. Porque são repetidas,
porque as sabes de cor, porque adivinhas e antecipas quaisquer outras que eu
invente, porque me conheces como mais ninguém e até em silêncio nos
entenderíamos.
Por uns segundos deixei-me ali
ficar inerte e paralisado, como se aproveitasse o silêncio que de repente tudo
ocupou. Um vazio, tudo me parecia um enorme vazio, entrecortado por imagens
difusas que te traziam para mim.
Vejo-te no mundo e ouço o que o meu coração diz de ti. E,
quer um quer outro, fazem com que me aperceba do quanto és especial. As árvores
são importantes, o Sol é fundamental, o Mar é enorme, os pássaros são lindos,
mas tu és única. Sem ti, as árvores seriam supérfluas, o Sol indiferente, os
pássaros tristes e o mundo seria algo sensaborão de onde eu não retiraria o
mínimo interesse. És tu quem faz o meu mundo florir…
Aos poucos fui confundindo os
sonhos com a realidade. E ao mesmo tempo em que te via ali sorridente ao meu
lado, o mundo rodopiava num tal vendaval que me parecia ensandecer. Ardia-me o
peito, as lágrimas que tanto contive afloravam abruptamente aos meus olhos sem
eu perceber bem porquê.
Achava
que depois de tantos desentendimentos conseguiria gerir melhor a falta que me
fazes...nao consigo. Sem ti fico num buraco escuro e não respiro bem. Sem ti,
nada...
És
a minha vida. Que estes dias horrorosos sirvam, pelo menos, para me lembrar
isso. Quanto ao resto, espero que me consigas perdoar.
Faltou-me o ar, faltou-me o
equilíbrio, faltaram-me as forças. Senti que todo o meu corpo finalmente
desistia de seguir em frente e de uma vez por todas se juntaria a este meu
coração empedernido e cansado de viver…
Amor,
Estou no céu,
literalmente no céu. Não sei o que sobrevoo, não sei onde estou - para alem do
céu - sei mais ou menos para onde vou. Se lá chegar...
E de repente vieram as dores
no peito, fortes e intensas, a fazer-me recordar todas as palavras que não te
soube dizer, todas as dores que fui capaz de te infligir, todos os momentos em
que precisei de ti e tu já não estavas. Estendi as mãos para ti, para a tua
miragem que ficou e não mais me abandonou. Sou capaz de jurar que me sorriste e
me lançaste a tua mão antes de eu cair numa total escuridão.
Deixei cair uma caneta ao
chão. E com ela a minha Alma. E com ela a minha vida. Só lamento não ter sido
capaz de te escrever uma última vez antes de morrer.
Meu
Amor, perdoa-me se eu não pude estar sempre presente, perdoa-me os meus
silêncios, as minhas distâncias, os meus vazios. Nada posso fazer para apagar
esses males que te possa ter causado. Apenas te posso dizer que nunca estivemos
verdadeiramente sós ou separados. Carregamo-nos um ao outro no sentimento que é
só nosso e só esperamos que a alegria do momento do reencontro suplante e
apague a tristeza da saudade.
Amo-te
muito.