Wednesday, November 02, 2016

Deixei cair uma caneta ao chão

Deixei cair uma caneta ao chão. Deslizou entre os meus dedos de forma súbita e inesperada. Como se algo ou alguém a tivesse empurrado, inadvertidamente, e sem que eu a pudesse segurar. Escrevia-te, sei que te escrevia…

Às vezes parece que as palavras que tenho para te entregar são supérfluas. Porque são repetidas, porque as sabes de cor, porque adivinhas e antecipas quaisquer outras que eu invente, porque me conheces como mais ninguém e até em silêncio nos entenderíamos.

Por uns segundos deixei-me ali ficar inerte e paralisado, como se aproveitasse o silêncio que de repente tudo ocupou. Um vazio, tudo me parecia um enorme vazio, entrecortado por imagens difusas que te traziam para mim.

Vejo-te no mundo e ouço o que o meu coração diz de ti. E, quer um quer outro, fazem com que me aperceba do quanto és especial. As árvores são importantes, o Sol é fundamental, o Mar é enorme, os pássaros são lindos, mas tu és única. Sem ti, as árvores seriam supérfluas, o Sol indiferente, os pássaros tristes e o mundo seria algo sensaborão de onde eu não retiraria o mínimo interesse. És tu quem faz o meu mundo florir…

Aos poucos fui confundindo os sonhos com a realidade. E ao mesmo tempo em que te via ali sorridente ao meu lado, o mundo rodopiava num tal vendaval que me parecia ensandecer. Ardia-me o peito, as lágrimas que tanto contive afloravam abruptamente aos meus olhos sem eu perceber bem porquê.

Achava que depois de tantos desentendimentos conseguiria gerir melhor a falta que me fazes...nao consigo. Sem ti fico num buraco escuro e não respiro bem. Sem ti, nada...
És a minha vida. Que estes dias horrorosos sirvam, pelo menos, para me lembrar isso. Quanto ao resto, espero que me consigas perdoar.

Faltou-me o ar, faltou-me o equilíbrio, faltaram-me as forças. Senti que todo o meu corpo finalmente desistia de seguir em frente e de uma vez por todas se juntaria a este meu coração empedernido e cansado de viver…

Amor,

Estou no céu, literalmente no céu. Não sei o que sobrevoo, não sei onde estou - para alem do céu - sei mais ou menos para onde vou. Se lá chegar...

E de repente vieram as dores no peito, fortes e intensas, a fazer-me recordar todas as palavras que não te soube dizer, todas as dores que fui capaz de te infligir, todos os momentos em que precisei de ti e tu já não estavas. Estendi as mãos para ti, para a tua miragem que ficou e não mais me abandonou. Sou capaz de jurar que me sorriste e me lançaste a tua mão antes de eu cair numa total escuridão.

Deixei cair uma caneta ao chão. E com ela a minha Alma. E com ela a minha vida. Só lamento não ter sido capaz de te escrever uma última vez antes de morrer.

Meu Amor, perdoa-me se eu não pude estar sempre presente, perdoa-me os meus silêncios, as minhas distâncias, os meus vazios. Nada posso fazer para apagar esses males que te possa ter causado. Apenas te posso dizer que nunca estivemos verdadeiramente sós ou separados. Carregamo-nos um ao outro no sentimento que é só nosso e só esperamos que a alegria do momento do reencontro suplante e apague a tristeza da saudade.

Amo-te muito.