Thursday, September 20, 2007

Carta antiga de Orfeu

Que dor...

Que dor ler-te, que dor não ver-te, que dor perder-te...Que dor...

Cada qual age consoante o que o coração ou a razão lhe mandam. Uns agem mais com o coração, outros com a razão. Uns arrependem-se dos passos dados, outros orgulham-se deles. Uns seguem em frente e outros recusam-se a deixar para trás o Amor da sua vida. Uns resignam-se e desistem, outros esbracejam e fingem lutar…mesmo quando não o conseguem…

Nunca te censurarei por nada. Nunca levarei a mal a opção que tomares (e que estás a tomar). Se calhar até será melhor assim…Se calhar assim manterei, manterás ou manteremos vivo dentro de mim o Amor que jurei, e juro, te devotar. Desde a primeira vez que to disse (ou que o senti…), até ao último suspiro da minha vida (se calhar até depois deste).

Só que eu, Orfeu, encontrei em ti mais do que uma mera mulher. Encontrei em ti a minha Eurídice…por alguma razão serás sempre a minha Eurídice…Por isso, quando me falas em fugir, para mim isso significa deixar a minha Alma para trás. Vi-te partir e contigo partiu a minha Alma. Agora sem ti sou um invólucro vazio. Nada faz sentido, nada brilha como tu…

Poderia seguir em frente, poderia até fugir de ti. Para quê? Para seguir sozinho com o Mundo à minha volta? Para seguir desencantado com o Mundo? Acho que prefiro sentar-me e esperar…O quê? Nada! Esperar nada! De que me adiantaria procurar a felicidade momentânea, fugaz, fútil, vazia? Por uns momentos de prazer? Por uns momentos em que eu fingisse ser feliz? Não sou…

Por vezes penso que gostaria de ser como as pessoas normais e não carregar comigo os Amores que me dilaceraram o coração, mas que fizeram de mim a pessoa que sou hoje. Mas isso seria a maior ofensa que eu faria ao Amor. E não há nada que eu queira fazer que o desonre…

Que dor deve ter sentido Orfeu ao ver que o olhar que lançou à mulher da sua vida a fez desaparecer para sempre. Que dor deve ter sentido Orfeu ao sentir que, a partir desse momento, nada mais fez qualquer sentido e que ninguém poderia suplantar a “sua” Eurídice. Que dor deveria ter sentido Orfeu se soubesse que a “sua” Eurídice preferiria seguir em frente para não sofrer. Que dor sinto eu…

Posso não viver a “felicidade momentânea das coisas”, mas certamente continuarei a Amar…
Com um beijo do tamanho do Mundo. Do tamanho do Mundo que me tirou esse beijo.

Orfeu