Durante os anos em que te
escrevi incessantemente acreditava que o fazia na esperança que me lesses, que
me ouvisses, que me respondesses. Pensava eu então que aquele esforço hercúleo de
converter sentimentos, lágrimas, dores, saudades em palavras, frases e textos
me ajudaria a extrair de ti um sorriso, um afago, uma palavra só. E julgava eu
que esse sorriso, esse afago, essa palavra me saciaria. Julgava eu que a tua
resposta, fosse ela qual fosse, me daria as respostas que tanto procuro e que
ali finalmente encontraria a paz.
Passados tantos anos, tantas
palavras, tantas cartas e tantos silêncios, apercebi-me hoje, por mero acaso, que
a expectativa de uma resposta não foi a verdadeira razão para toda aquela
escrita
(pelo
contrário, talvez os teus silêncios o tenham sido)
Escrevi-te, escrevo-te, porque
algo mais forte do que eu, do que a razão, me impele para o fazer. Porque por ironia
do destino, bênção dos Céus ou infortúnio desta vida, carrego demasiado Amor
dentro de mim. E esse Amor por vezes é tanto que me sinto verdadeiramente a
transbordar. Nesse momento nascem as palavras e uma necessidade imensa de as
transpor para o papel. Como se se tratassem de punções diretas ao coração para extrair
periodicamente todo esse excedente que me afoga.
Escrevi-te, escrevo-te, porque
o meu coração não sossega. Porque o sangue que ele bombeia tem o teu nome
gravado, porque a cada batida vejo o teu olhar e a cada contração ouço a tua
voz. Escrevi-te, escrevo-te, porque estás longe e essa é a única coisa que faz
algum sentido na tua ausência.
Sei o quanto infrutíferas são
estas palavras. Sei que de nada adiantam. Não sei se as lerás. Não sei se as lendo
terás alguma reação. Mas sei, sinto-o, que esta é a razão pela qual nasci. Por
isso hoje não deixarei que a realidade atrapalhe a minha ilusão, que a minha
inércia comprometa a minha escrita e, sobretudo, não permitirei que a razão me
impeça de te Amar…