Monday, April 26, 2010

Sem ti...não gosto do Mar...

Homem livre, tu sempre gostarás do mar
Charles Baudelaire (1821-1867)


Querida,


Decerto te lembrarás de me ouvir a falar do Mar. Quando eu para ele olhava, com um ar sonhador, e te dizia: “sabes…eu gosto muito do Mar”... Devo te ter mentido, já que o mesmo Mar que outrora me encantava, é o Mar que hoje me atormenta. O Mar, onde eu repousava os meus olhos e os meus sonhos, é o Mar onde eu agora deposito as lágrimas que nunca choro.

Aquele Mar, onde eu só via beleza, o Mar que me levava pela linha do horizonte para novos mundos, o Mar que me parecia sempre um ponto de partida para uma qualquer nova descoberta, o Mar que era um bálsamo para as minhas dores, feridas e cansaços, esse Mar, esse de que tantas vezes te falei, secou, desapareceu, evaporou-se. Agora, quando avisto aquela imensidão de água, peço ao coração para deixar de bater, à minha Alma para deixar de sentir e aos meus olhos para cegarem momentaneamente. Porque de nada me vale este Mar. Porque não apaga nem diminui as minhas desilusões. Porque, como sempre, leva-me até ti, mas, neste momento, tu…já não estás lá…

Sou como a Mãe que viu o filho ser engolido pelo Mar e que, por causa disso, no Mar abandonou também a sua vida, as suas esperanças, os seus sonhos e os seus sorrisos. Como se a vida, a partir daquele momento, se limitasse a um exercício quotidiano de respirar e bater do coração. Não estou muito diferente…Respiro, de facto, e o meu coração lá vai batendo (julgo eu…). Mas, cá dentro, nas profundezas da minha Alma, nos cantos recônditos do meu Ser, encontro-me na total escuridão. Sem vida, sem luz, sem Alma, sem nada.

Por isso, de que me adianta se o Mar está límpido e azul ou esverdeado? De que me interessa se o Sol brilha com uma luz forte e emana um calor reconfortante? Para que é que eu quero a voz chilreante dos pássaros e o florir da Primavera? Diz-me…de que me serve a Lua Cheia grande e amarela a olhar para mim? Tu és a luz que acende a minha Alma. És a chama que me dá o verdadeiro calor. És a fonte de todos os meus sonhos. És o destino aventureiro onde me sinto seguro. És o caminho sinuoso para a felicidade que eu teimo em não querer encontrar.

Sem ti, estou cativo das recordações onde te carrego. Sem ti, estou preso do Amor que não te entrego. Sem ti, estou acorrentado às palavras que me consomem. Sem ti, estou subjugado às dores da tua ausência. Sem ti, não sou um homem livre. Sem ti…não gosto do Mar…

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