Friday, December 29, 2006

A carta que deverias escrever...

Meu Querido,

Finalmente ganho coragem para te escrever. Para te tentar mostrar quem sou verdadeiramente. Para que me vejas com outros olhos. Aliás, para que não me vejas com os olhos, mas com a tua Alma.

Cansei-me de tentar ser a mulher perfeita, educada, elegante, boa em tudo o que faço. Quero ser apenas Eu. Quero que todos os meus sonhos, desejos, paixões e calores entrem em erupção e destruam, nem que seja por breves momentos, essa imagem que tu – e tantos outros – têm da minha pessoa.

Quero que me Ames pelo que eu sou. Cá dentro. Num lugar que nem tu conheces, pois estiveste demasiado tempo entretido com o meu rosto e com o meu corpo. Deixa de me olhar pelo que eu pareço. Quero que sintas bem fundo tudo o que eu tenho para dar. Para te dar. Quero que conheças os meus podres, o meu lado ruim, o meu lado que eu teimei tanto tempo em esconder.

Porquê? Por vergonha, por acomodação, por cobardia. Sei lá...Parecia-me o caminho mais fácil ser a pessoa que todos à minha volta queriam que fosse. E esqueci-me de mim mesma. Lá no fundo. No âmago da minha Alma.

Mas agora, agora acho que ganhei o direito de me libertar. Cumpri com tudo o que me pediram. Chegou a minha hora. Finalmente.

Não sei se algum dia me entenderás, se compreenderás aquilo que te escrevo. Se inclusive aceitarás esta pessoa que pouco ou nada tem a ver com a outra pela qual te apaixonaste – apaixonaste? Sabes o que é estar apaixonado?. Mas já não há caminho de volta. Sou eu que quero respirar, viver. Se me Amas, se me Amas verdadeiramente, estou certa que me entenderás e que me apoiarás neste desafio. Se não me entenderes, será porque não me Amas suficientemente ou porque não estávamos destinados a estar um com o outro. De qualquer uma das maneiras ficarei a ganhar: ou um Amor verdadeiro, ou a verdade de não ser Amor...

Mas agora olha para mim. Perscruta nos meus olhos os desejos de uma mulher, sequiosa de Amor, ardente de desejo. Rasga a minha Alma e despoja-a de tanto sentimento acumulado, da raiva, da fúria, da tesão que tantas vezes acumulei por pudor, do carinho que nem sempre fui capaz de transmitir. Despe-me de uma ponta à outra, dos cabelos às unhas dos pés, usa-me como se eu fosse parte de ti, torna-me parte de ti.

Quero que me conheças a fundo, para que me ajudes a conhecer-me. Quero-te...Agora...Talvez assim consiga, nem que seja por breves momentos, ser feliz...

7 comments:

damularussa said...

Definitivamente, essa é a carta que não preciso escrever.
Os "ses" não se colocam porque não existem, deram lugar à certeza do estar porque se quer, porque se sente, porque se ama, deram lugar à cumplicidade do sorriso, das lagrimas e da dôr. Os "ses" deram lugar à certeza do amor.

Um excelente ano 2007 para ti, e tambem para mim.

Anonymous said...

Se quem precisa de escrever esta carta tiver coragem para o fazer... são dois que ganham! Ou não é!
Serão óptimas resolções de ano novo!

a mulher do lado said...

Se calhar esta é a carta que precisava escrever.. Se não para alguém em especial, porque não existe este alguém de momento, mas para mim mesma. Para sentir que posso cada vez mais ser eu, excessiva, difícil, desejante, acima de tudo. Imperfeita tantas vezes... Caro Poeta, pareces mesmo ser alguém muito sensível, já são tão raros hoje em dia. Bjos e um grande 2007 para ti!

Poeta Aprendiz said...

Não tenho por hábito comentar os comentários neste blogue, mas neste caso abro uma excepção...

Ao contrário de tantas outras cartas, esta não é escrita aos meus olhos. De uma forma nada fácil, tentei encarnar uma mulher cujo maior desejo na vida é ser Amada intensa e desesperadamente pelo que ela é no interior da sua Alma e não pelo estereótipo que a obrigam a viver.

Pode não corresponder à situação da mulher A ou B, mas haverá certamente a mulher C ou D que se identificará com o que tentei sentir.

Fi-lo no maior dos respeitos e com a perfeita convicção que falta Amor neste Mundo. Que faltam intensidade e profundidade de sentimentos, que falta uma entrega total de corpo e Alma em muito do que se vive.

No fundo não será mais do que um voto de Bom Ano 2007

Aninhas said...

Poeta a minha conclusão só pode ser uma.
Há falta de amor neste mundo porque tu tens muito mais do que a tua quota parte...

É mais uma vez um texto lindo e cheio de sentimento.
Que sorte terá a tua dorada!

bjks ***
:)

Anonymous said...

a mulher i"c" agradece a carta e agradece ainda mais a excepção ao comentário da mesma ...
obrigado poeta protector !!!

Anonymous said...

Algo me diz que te conheço... pela forma como escreves.