Às vezes ainda ardo. Ainda vivo. Ainda respiro.
Quando por acaso, ou sorte,
abandono o presente em que me enterro e regresso ao passado que o tempo me
levou. E, de repente, volto a ser nova, volto a sorrir. O corpo parece exatamente
o mesmo, mas a Alma…essa rejuvenesce e permite-se voltar a sonhar. E em tempos
idos eu gostei tanto de sonhar…
Jamais esquecerei aquele
sorriso, aquele olhar que apagava o mundo em seu redor, o primeiro beijo. O
segundo, o terceiro, o último…Os braços, os abraços, o meu corpo entrelaçado no
seu. O desejo que nos alimentou e saciou. Os projetos que desenhámos juntos, os
planos e caminhos que idealizámos, mesmo sabendo que nunca os iríamos cruzar.
As suas mãos nas minhas, segurando-mas com medo de as largar. E as lágrimas. As
lágrimas que escorreram pelas nossas faces, as lágrimas que infligimos um ao
outro, as lágrimas que foram, talvez, o último gesto de Amor.
Depois destas veio o Adeus,
que também tantas vezes recordo. O Adeus que nenhum de nós queria reconhecer
que o era. O Adeus que nos negávamos a aceitar. O Adeus que nós confundimos com
um até breve. O Adeus que sabíamos nos condenaria para sempre.
Ouvi dizer que recordar é
viver novamente. No que me diz diretamente respeito, creio que recordar é
sobreviver. É nas recordações que descubro a única razão para resistir a esta
vida insensata que me leva não sei para onde. São as recordações que me fazem
sorrir, chorar, fingir, sentir como se de alguma forma estranha eu me tivesse
transformado num personagem de um filme que já não é meu. São as recordações
que me permitem regressar ao lugar onde fui feliz. Até que as esqueço…E
regresso à modorra da vida que o destino (bode expiatório de todas as culpas)
escolheu para mim. E, quase sem dar por isso, apago-me, deixo de respirar. E
vou morrendo…
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