Talvez eu tenha nascido com uma predisposição natural para Amar. Ou então talvez o Amor me tenha servido como redenção da tristeza com que fui concebido e ainda hoje me sirva para iluminar a escuridão da minha melancolia. Por isso vivo o Amor com tanta intensidade, com tanta sofreguidão, com tanta ansiedade. Porque às vezes parece que dele depende a minha própria vida. E então sinto o coração literalmente ao pé da boca. E as palavras despontam do nada. Ou do que parece nada. E do nada ocupam tudo.
Mas, ao contrário do que possa parecer, este Amor, que para mim é natural, instintivo, espontâneo, não é minimamente aleatório, casual ou inconsequente. Não nasce do acaso ou da coincidência e não se destina a todos. Nem assim podia ser. Há pessoas, algumas, poucas, que captam a minha atenção, que despertam a minha curiosidade, que me cativam aos poucos, por olhares, gestos, palavras, abraços. E então, novamente aos poucos, vão conquistando pedaços do meu coração. E apoderando-se das minhas palavras. Que, na verdade, são a maior expressão do meu Amor.
Hoje as minhas palavras são tuas. Estas, as que te escrevi no passado recente, as que te escreverei no futuro, até as que não chegaram ao papel mas foram sentidas com a mesma intensidade. Por isso, talvez possa dizer que o meu Amor é teu. Ou pelo menos parte do meu Amor. E com ele parte daquilo que eu sou.
Não sei bem o que nos une. E por vezes chego a duvidar da consistência de tudo o que nos sustenta. Já que a vida e a realidade parecem conspirar contra nós e contra o Amor (será Amor?) que nos está vedado. Mas não deixo de sentir. Nem na distância, nem no silêncio. Nem mesmo quando calo as palavras. Por despeito, por pudor, por birra.
Mas a verdade é que basta um sinal teu. Uma mensagem, um sonho, uma foto. E o coração, reanimado e com novo alento, volta a bombear sangue, oxigénio, fogo, ardor, paixão, Amor. E atordoado, grogue e em transe, transformo-me em palavras numa ânsia desesperada por chegar até ti. Porque na maior parte das vezes só consigo chegar até ti através dessas palavras. E eu preciso tanto de chegar até ti...
Faltas-me. Diariamente. E por mais que eu me esforce estoicamente por me manter à tona, muitas vezes afunda-se o meu corpo e a minha Alma. E é nesses momentos, como agora, que eu preciso de te tocar. Mesmo que seja metaforicamente e na ilusão de quem Ama sem ser Amado.