(título "roubado" ao Soneto da Separação de Vinicius de Moraes)
Meu Amor,
Talvez não acredites naquilo que te escrevo. Talvez não acredites porque me lês à distância e não consegues ver o meu olhar que tudo certificaria. Talvez não acredites porque o teu coração magoado e sofrido perdeu tanta da fé que tinha outrora que hoje é só hesitação e medo.
Mas a verdade, aquela que eu te escrevo e que o coração me dita, é que foi tudo assim, de repente, inesperado, súbito. Como um tremor de terra que nos abala o corpo e as estruturas de betão armado, desta vez foram os nossos corações abalados por alguma coisa que ainda não tem qualquer escala de medição (julgo eu) assim tipo Richter.
A grande diferença entre este abalo e os sismos terrestres é que no primeiro caso os efeitos permanecem e custam a desaparecer. E olha que não te falo de quaisquer consequências nefastas como ondas gigantes ou edifícios que desabam. Falo da sensação do tremor cá dentro, da bola no estômago, do coração descompassado e com arritmias, da impressão de estarmos virados de pernas para o ar.
Já tentei de tudo para escapar a estes sintomas: respiração com o diafragma, exercícios de ioga, analgésicos, calmantes, até fumei um cigarro imagina tu, nos dias que correm, um cigarro!!!! Nada funcionou. Estou certo que só o teu olhar me curará deste mal que me atingiu tão repentinamente. Que os teus beijos acalmarão o meu espírito. E que, ainda que me vires de pernas para o ar, será o teu corpo encaixado no meu que saciará finalmente o meu ser.